O ódio é, senão, o grito dos covardes

Larissa Lenarduzzi
larissa.lenarduzzi@folhar.com.br

Um dia desses estava conversando com uma amiga de longos tempos e do nada ela me disse: “sinto falta de pessoas que me apresentem uma música nova, um novo lugar, uma nova vida.”

Acredito que todos nós sejamos movidos pela curiosidade do que é ainda desconhecido, poi´s tudo que ainda não sabemos forma um universo de “porquês” em nossa mente.

Mas até em que ponto criamos certas expectativas em cima de outras pessoas que também são formadas de tantas outras expectativas?

Nenhum momento tão propício para falar sobre isso como a situação política da atualidade. Ficamos abismados diante da possibilidade de pensar em Donald Trump no poder. Eu quando ouvi isso pela primeira vez pensei: espero que seja um primo, pela coincidência do sobrenome ou um filho ou alguém de terceiro grau que nunca tenha convivido com ele. Mas não! Era ainda desconhecido para mim o fato de que aquele apresentador de reality show americano e grande estrela do mundo business agora traçava caminhos políticos. Um instante!? O comportamento dele havia mudado em relação aos subordinados? Porque, até então, o que ele promovia diante das câmeras era um show de abatimento em público. Para não dizer sobre a liberdade que pensava ter por ser alguém com domínio do capital – inúmeras mulheres falaram sobre o quão abusivo ele fora diante delas, mulheres subordinadas ou não a ele.

Como eu dizia, sentimos falta de alguém que apresente uma nova vida e depositamos nela expectativas e sonhos. Assim acontece em muitos lugares ao redor de todo o mundo: é com a promessa de vida eterna sob os cuidados de virgens que os extremistas ainda estão mutilando crianças em Aleppo, na Síria; foi sob o sol da ideologia de um mundo branquíssimo e de olhos claros que mais de 5 milhões de pessoas foram eliminadas por meio do horror nazista e por tantas outras promessas estamos colocando nossas expectativas sob o domínio de quem muitas vezes não tem a mínima racionalidade do bem ou do mal.

Sob a promessa de uma nova América, liberta de outras nacionalidades, os americanos elegeram Trump, acreditando, talvez, que ele fosse a salvação para todos.

Se você não dominar sua mente, alguém irá fazê-lo uma hora ou outra e espero que quando isso for uma opção, tenhamos discernimento de saber separar o “joio do trigo” e que também sejamos racionais o suficiente para criar muros apenas diante do preconceito, ódio e ignorância alheia.

Eu gostaria de ter dito para minha amiga que quando esperamos que o outro complete nossos vazios, a gente só cria mais vazios e quando alguém grita em nome de qualquer razão que não exista eu consigo apenas concordar com Bernard Shaw que disse que o ódio é, senão, a vingança do covarde.

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