Há algum tempo eu não vou à praia. Tenho todos os tipos de amigos que “assuntam” sobre o litoral: aquelas que “pelo amor de Deus, que nojo de pegar uma acne naquela areia nojenta, estragar o cabelo? Jamais!”, outras que “adoro ir as 8 horas, me embasar de óleo bronzeador e sair as 19 torrada feito um camarão”,uns que “gosto de praia, mas não entro na água não”, e aqueles que fazem parte do meu time “praia é bom para escrever,entrar na água, ouvir música, conversar, beber, passear, morar, correr e t-u-d-o… apenas!” praia é um dos passeios favoritos. A gente, desde a infância sempre esperou muito para ver o mar, não sei se porque tudo que é muito longe e também restrito é bastante esperado ou porque eram sempre excelentes os momentos praianos em família. Somos em três irmãos e sempre ao final do ano era sagrado ir para o Sul pular sete ondas para iniciar bem o próximo. Por isso talvez a ansiedade de ver as ondas. Doze horas, as vezes catorze.Em uma delas achei até que chegaríamos à Terra do Nunca, DEZESSEIS eternas horas! Dormia, acordava, perguntava quantas vezes dava para cantar o hino do Santos até chegar lá, cantava o hino algumas vezes, caia no sono novamente, acordava, descia novamente e ainda estava no meio do caminho. Uma longa viagem que sempre valia todos os minutos e, quando chegávamos, geralmente à noite – e eu já descalça, cansada, ansiosa, abria a porta do carro e via aquela imensidão de água na minha frente e sentia o cheiro de mar. Sempre me senti voltando para casa quando ficava frente ao mar!
A vida é feita de dias nublados e dias de sol. Mesmo quando em frente ao mar! Se não fizermos com que os dias de sol valham à pena, ao fim de tudo, não valeremos a pena também. Meus amigos estão envelhecendo. Minha família. Meus irmãos. Tudo que depende de tempo, passa. E vejo o quão estão cada vez mais abandonando o que é fútil, para abraçar o que é verdadeiro. Uns abandonaram a “Selva de Pedra” em busca de qualidade de vida, outros foram para a cidade pequena para cuidar do filho pequeno. Cada qual vivendo e fazendo o possível para manter seus milagres diários. Hoje pensei no mar porque recebi a excelente notícia de um amigo de longa data que estava indo para o Sul – do Sul para o Sul porque queria ser verdadeiro consigo mesmo: “Oi, como você está? Gostaria de contar que tomei coragem e no final do mês estou indo para o Sul e você está convidada a me visitar”.
A vida é muito rude conosco para que sejamos mais. Talvez se não houvesse a delicadeza dos meus pais em notar o brilho nos nossos olhos ao ver o mar, ficaríamos sempre tristes todos os finais de ano. Ou talvez aprenderíamos a viver sem mares, como muitas crianças vivem sem.
Um dia todos vamos nos distanciar. Vamos nos despedir. Então enquanto houver tempo. Houver, como diz a física, espaço e tempo, manter nossa coexistência diante de tantas outras não é suficiente. Que tenhamos mares, mesmo que seja uma vez ao ano. Que haja amores, mesmo que não seja certeiro. Que haja respeito, mesmo que seja com luta. Que haja mares, mesmo depois de dias nublados. E caso seus dias estejam cinzas e doídos, espero que veja sob distintas perspectivas o que escreveu Guimarães Rosa, que “a noite não é o fim do dia, mas sim é o começo do dia que vem”.
**Dica de música para o dia: Back Down South de Kings of Lions
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